Apesar de ser considerado um novo ramo nas ciências econômicas, a economia comportamental pode ser vista em clássicos da economia escritos há mais de 200 anos. Como exemplo, pode-se citar “Teoria dos Sentimentos Morais” de Adam Smith, onde é analisado o efeito psicológico sobre o bem-estar humano[1].

Ocorre que com o desenvolvimento da área e a tentativa incessante em transformar a economia em uma ciência racional, fez surgir a teoria neoclássica que expurgou pressupostos psicológicos da teoria econômica trazendo para teoria da escolha métodos econométricos e pressupostos estritamente racionais. Porém, no início do século XX, alguns economistas como Veblen e Mitchell começaram a questionar o estudo do comportamento econômico como uma ação racional dos indivíduos[2].

Somente em 1950 há mudança efetiva no pensamento econômico com o surgimento da teoria da racionalidade limitada, cunhada por Herbert Simon, que abre espaço para que outras ciências se juntem a economia para estudar o processo de decisão e comportamento dos agentes analisando-os de forma mais realista.

Assim, para a economia comportamental, o agente econômico no processo decisório leva em conta hábitos, experiências e busca soluções rápidas e satisfatórias o que dificulta o equilíbrio de interesse a curto e longo prazo. Em nosso cenário atual, onde os hábitos foram modificados rapidamente com a pandemia causada pelo COVID-19, a economia comportamental ganhou destaque e uma série de estudos são realizadas para analisar o comportamento do consumidor.

Em estudo divulgados ao final de mês de julho deste ano pela plataforma Nielsen[3], Banco Central e pelo aplicativo Moobills[4], a mudança na forma de consumir é facilmente percebida. O estudo realizado pela plataforma Nielsen, mostra a mudança de consumo em todo mundo, durante os diversos estágios da pandemia.

Assim, quando começou o surto da doença COVID-19, no Brasil o consumo de produtos de saúde especificamente voltados ao combate do coronavírus chegaram a crescer 623% em alguns itens como antissépticos e 389% em softwares, o mesmo comportamento foi observado em países como Itália, Estados Unidos, Coréia, Canadá e Países Baixos. Após o aumento galopante em produtos de saúde e higiene, observou-se um comportamento igual para produtos considerados como “preparação de despensa”, onde o agente econômico estava se preparando para a vida em isolamento social.

No estágio atual, onde o consumidor retoma a sua vida dentro do denominado “novo normal, há um aumento em compras online, gastos com viagens e/ou transportes e lazer ficaram para segundo plano e há cautela na hora de realizar qualquer novo gasto. Em pesquisa realizada pelo aplicativo Moobills, os gastos com Uber e 99 (ambos aplicativos de mobilidade) caíram, respectivamente, 69,8% e 45% durante o primeiro semestre no Brasil.

A pesquisa realizada pelo Banco Central (BACEN), mostra ainda que a maior dificuldade enfrentada pelo mercado no “novo normal” é convencer o consumidor a gastar. Segundo o BACEN nos meses de abril, maio e junho houve aumento expressivo nos depósitos em cadernetas de poupança havendo volumes recordes de captação.

Ao que parece o consumidor brasileiro está aprendendo com a pandemia a desenvolver hábitos de saúde e nutrição, onde a ramo alimentício vem sofrendo expansão no ramo sustentável. Há ainda o aumento do consumo por plataformas online que se apresentam como uma tendência duradoura e reforçam o uso das redes sociais como forma de impulsionar vendas e melhorar a comunicação com os consumidores.

Por Maria Elvina Lages Veras Barbosa

Graduada em Direito pelo Instituto Professor Camillo Filho (2018). Pós-graduanda em direito constitucional e administrativo pela Escola do Legislativo do Piauí. Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Piauí.

[1]https://www.researchgate.net/profile/Fernando_Costa15/publication/242576071_Economia_comportamental_de_volta_a_filosofia_sociologia_e_psicologia/links/5639f92608ae337ef2980e0a.pdf

[2] https://www.redalyc.org/pdf/284/28425280013.pdf

[3] https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Nielsen%20-%20Impactos%20da%20COVID-19%20nas%20vendas%20de%20produtos%20de%20consumo%20de%20giro%20rA%CC%83%C2%A1pido%20no%20Brasil%20e%20ao%20redor%20do%20mundo.pdf.pdf.pdf

[4] https://www.consumidormoderno.com.br/2020/07/24/pandemia-traz-mudancas-no-consumo-e-nas-financas-pessoais/#:~:text=Pandemia%20traz%20mudan%C3%A7as%20no%20consumo%20e%20nas%20finan%C3%A7as%20pessoais&text=A%20pandemia%20do%20novo%20coronav%C3%ADrus,pessoas%20de%20relacionarem%20e%20consumirem.&text=Por%20outro%20lado%2C%20houve%20aumento,como%20%C3%A1gua%2C%20energia%20e%20g%C3%A1s.